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Dezenas de jovens egressos participaram do Seminário Minha Vida Fora Acolhimento, realizado entre os dias 20 e 22 de março, em Belo Horizonte (MG), pelo Movimento Nacional Pró Convivência Familiar e Comunitária, o qual a Aldeias Infantis SOS faz parte.
Durante três dias, egressos dos serviços de acolhimento institucional e acolhimento familiar de 20 estados brasileiros e até de outros países, como Argentina e Paraguai, puderam expor suas cicatrizes e atuaram como verdadeiros protagonistas do Seminário, que rendeu, como fruto principal, uma declaração, assinada por eles, e entregue aos representantes do Sistema de Garantia de Direitos presente, incluindo membros do Governo Federal.
A Declaração reúne uma série de reinvindicações que traduzem os desafios enfrentados pelos jovens egressos, que agora atuam em prol daqueles que ainda se encontram em acolhimento. Atendimento psicológico clínico constante, o à programas habitacionais, e financeiro, atendimento psicosocial estendido à família são alguns dos temas que permeiam o documento.
A apresentação e leitura do documento foi um dos pontos mais marcantes do evento. Durante a última mesa do Seminário, que justamente discutia as políticas públicas em prol da juventude egressa, os jovens promoveram uma intervenção artística ao som da música Amarelo, Azul e Branco, da dupla AnaVitória.
A jovem Vitória Beatriz Vicente Albino, de 18 anos, moradora da República de Jovens da Aldeias Infantis SOS em Limeira (SP), participou deste momento e pode ir ao púlpito ler um trecho da declaração, que teve a leitura dividida entre outros egressos. “Foi uma experiência incrível. Me senti ouvida e orgulhosa por poder representar tantos jovens. Foi um privilégio para mim, entre tantos adolescentes em acolhimento, ser escolhida para ir até lá e falar em nome da Aldeias Infantis SOS. Agradeço muito por essa oportunidade”, ressalta Vitória.
Esse protagonismo juvenil ressalta a importância do Seminário na opinião de Sérgio Marques, Sub-Gestor Nacional da Aldeias Infantis SOS, porque registra o engajamento dos jovens, discutindo questões que impactam a vida de milhares de pessoas em acolhimento no Brasil atualmente. “Precisamos ouvir as vozes desses jovens, devido a invisibilidade deles diante do momento de saída do serviço de acolhimento. O quanto eles são preparados ao longo da sua jornada para esse momento diante das políticas públicas existentes?”, questiona Sergio.
Já para o Coordenador Nacional de Juventude da Aldeias Infantis SOS, Roney Assis, o Seminário foi uma grande oportunidade para reunir os diversos atores do Sistema de Garantia de Direitos e promover o debate das pautas apresentadas pelos jovens. “É um problema complexo, porque muitas vezes, os jovens precisam encarar a vida fora deste ambiente de cuidado, que são os serviços de acolhimento, sem o às políticas públicas para apoiá-los”, complementa Roney de Assis.
Egressos no Brasil
Em maio de 2023, a Aldeias Infantis SOS apresentou, por meio do Instituto Bem Cuidar, o resultado da pesquisa nacional “Vozes (in)escutadas e rompimento de vínculos: pesquisa sobre crianças e adolescentes em cuidados alternativos, egressos/as e risco a perda de cuidado parental no Brasil”, um relatório sobre as condições de vida e o o a direitos de crianças e adolescentes.
O documento indica que 32 mil crianças e adolescentes estão afastados do convívio familiar e em situação de acolhimento, sendo mais de 80% concentrados nas regiões Sudeste e Sul do país. Conforme a pesquisa, a faixa etária é diversificada, sendo 25% delas com idade entre 0 e 5 anos, 27% entre 6 e 11 anos, 44% entre 12 e 17 anos e 5% com 18 anos ou mais.
O estudo, realizado entre novembro de 2022 e março de 2023, abrange todas as regiões do país, incluindo 23 estados, o Distrito Federal e mais de 200 municípios. Durante esse período, foram ouvidos mais de 350 crianças e adolescentes sob a guarda do Estado, acolhidos em casas lares e abrigos públicos e de organizações não-governamentais.