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Em meio ao contexto atual de conflitos geopolíticos, tensões econômicas e a abordagem tarifária dos Estados Unidos, a incerteza sobre o futuro predomina em grande parte da comunidade alemã. As barreiras econômicas, aumento da inflação, política monetária e fragmentação da economia global são os fatores que mais preocupam o empresariado alemão ao redor do mundo, revelou a mais recente edição do AHK World Business Outlook, estudo realizado pela Câmara Alemã de Comércio e Indústria (DIHK, em sua sigla em alemão) com mais de 4500 empresas alemãs.
Em meio às incertezas geopolíticas crescentes e preocupações novas surgindo nas companhias ao redor do mundo, a América do Sul e Central e a África mantém um cenário mais positivo do que a média global. As tarifas e conflitos que atingem fortemente os países da Europa trazem uma oportunidade de negócios aos outros continentes, explicando a leve melhora no pensamento positivo por trás das crises ao redor do mundo.
Mesmo com esse otimismo parcial, Volker Treier, Chefe de Comércio Exterior da DIHK, explica que “a política de comércio dos Estados Unidos e as reações internacionais estão mandando ondas de choque por toda a economia global – investidores estão perdendo a confiança das relações. Como resultado, os investimentos estão sendo postergados ou cancelados, enquanto as relações comerciais tradicionais têm sido reavaliadas”.
“O plano de proteger a própria economia com tarifas e aumentar ainda mais a produção não está funcionando. O protecionismo e imprevisibilidade da política de comércio dos EUA está causando uma incerteza considerável e diminuindo as atividades econômicas. Isso está atingindo as empresas alemãs nas localidades estrangeiras com força total”, alertou Treier. Segundo o relatório, três a cada cinco companhias alemãs ao redor do mundo veem impactos negativos no comércio local devido às políticas do país.
Além disso, esse número aumentou significativamente após 2° de abril, nomeado “Dia da Libertação”, em que o governo americano anunciou tarifas recíprocas ao que fossem considerados impostos desproporcionais. Após esses anúncios, houve um aumento de 13 pontos percentuais nas expectativas de impactos negativos nos negócios, chegando a 69%.
Dentre os 7% das companhias que esperam resultados positivos, parte considerável são empresas que não operam nos Estados Unidos e são pouco afetadas pelas tarifas, vendo uma oportunidade de aumentar os negócios com outras áreas, como a União Europeia. No Brasil, 12% das companhias entrevistadas esperam impactos positivos com as tarifas, evidenciando a mentalidade resiliente do empresariado do País, acima da média global.
Os resultados mostram que a demanda, mão de obra qualificada e custos do trabalho deram espaço a uma mais nova preocupação: a política econômica. De acordo com a pesquisa, o ambiente de políticas econômicas é o risco mais forte para 49% das empresas, um número crescente. Mesmo se mantendo resiliente ao longo dos anos, o contexto de crises e conflitos levou a perda de força do crescimento econômico global.
Os riscos levantados pelas empresas são vistos diretamente relacionados a outras políticas empresariais, explicando a tendência à hesitação quando se trata da situação e expectativas para as companhias, investimentos e contratação.
Com as agressivas políticas dos Estados Unidos, o crescimento esperado é menor do que a média registrada nos últimos dez anos. De acordo com o documento, esse número tem impactos não apenas na avaliação das empresas sobre o desenvolvimento econômico, mas também nas situações e expectativas dos negócios.
Em suas localidades internacionais, apesar de registrar uma pequena queda em comparação às pesquisas anteriores, 85% das empresas consideram seus negócios em uma situação boa ou satisfatória. O cenário na América do Sul e Central é ainda mais positivo, registrando uma melhora de 10 pontos, com 89% das situações classificadas como boas ou satisfatórias.
Já as intenções de investimentos têm caído desde o outono de 2024, de 18% para 21% das companhias planejando a diminuição dos gastos. Enquanto os Estados Unidos eram o mais atraente mercado de investimentos para os negócios alemães antes da pesquisa, a incerteza causada pelas novas políticas do governo levou a cortes drásticos nos planos: apenas 24% planejam aumentar os investimentos, enquanto 29% se veem forçados a reduzi-los. Entretanto, em contraste à tendência global, a América do Sul e Central veem os investimentos em suas localizações como uma possibilidade, aumentando de 19 para 22 pontos, com intenções em 36% das companhias.
Para as intenções de contratação, os resultados globais seguem a mesma linha. Apesar da tendência não ser a demissão de funcionários, 16% das companhias planejam diminuir o ritmo de contratação, uma queda significativa de 21 para 15 pontos.
No cenário da América do Sul e Central, as intenções são divididas: enquanto na Guatemala, Costa Rica e Uruguai a expectativa é otimista, com o aumento de funcionários, a Argentina, Brasil, Paraguai e Peru seguem as tendências mundiais, com a diminuição do ritmo.
Os desafios para os próximos cinco anos também foram mapeados no levantamento e seguem as tendências anteriores. A incerteza macroeconômica e do ambiente geopolítico que as empresas alemãs ao redor do mundo enfrentam são inúmeras e cada vez mais intensas. As companhias acreditam que todos os fatores que já eram relevantes nas pesquisas desde 2023 ficarão mais intensas nos próximos anos.
Os desafios econômicos ganharam espaço. Para os próximos cinco anos, 64% consideram as barreiras comerciais e conflitos um problema persistente, um número crescente quando comparado ao 26% registrado na pesquisa de outono de 2023. Essa crescente é vista em todos os desafios levantados pelas companhias: política monetária, economia global, transformação digital, cibersegurança, assegurar matérias-primas e energia, transformação da economia em direção ao desenvolvimento sustentável, diversificação da cadeia de produção e migração.
Nesse cenário, a previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) ressalta o cenário econômico observado pelas empresas alemãs. O crescimento global previsto para 2025 é de apenas 2,8%, número abaixo da média de longo prazo de 3,7%. O comércio global também está mostrando fraquezas: o crescimento deve ser de apenas 1,7% em 2025 e 2,5% em 2026.
“Nossas empresas estão mostrando uma resiliência notável, mas até mesmo os modelos de negócios mais adaptáveis estão chegando aos seus limites”, alertou Treier. “Os políticos precisam urgentemente criar condições de estrutura claras, confiáveis e favoráveis ao investimento – em casa, na Europa e em nível global.”
e os resultados da pesquisa na íntegra aqui.